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Websérie brasileira ‘SEPTO’ é a representatividade nordestina que nós precisamos ver!

Um das melhores coisas de se acompanhar webséries é poder ver boas produções brasileiras. A escolhida para a coluna desse mês é a websérie SEPTO, genuinamente nordestina. Genuinamente brasileira. A primeira temporada tem 5 episódios e foi realizada graças ao esforço dos envolvidos e, também, ao financiamento coletivo lançado por seus idealizadores.

SEPTO merece destaque pois traz um mundo de representatividade que o audiovisual tanto precisa. A série é estrelada por atrizes não-brancas e de sotaque nordestino verdadeiro (esqueça aqueles sotaques forçados das novelas), levadas por uma trilha sonora também do Nordeste brasileiro. A web torna possível essa conquista de espaço e nos faz esquecer completamente o eixo Rio-São Paulo.

A websérie conta a história de Jéssica, uma triatleta saudável, recordista e de carreira promissora – mas que tem uma vida controlada pelo seu pai. Após receber a notícia de sua convocação para as Olimpíadas, a personagem passa mal e é socorrida por Lua, dona de um Albergue/escolinha de Surf que fica nas proximidades

Esse é o ponto de partida da história que mostra, nos poucos minutos de seus 5 episódios, como é difícil repensarmos nossa rotina a abrir mão do que os outros querem que você seja, para ser quem você realmente é.

Nós conversamos com Alice Carvalho, roteirista e atriz, e André Santos, um dos diretores de SEPTO sobre como foi trabalhar na produção e fazer crescer, com tanto carinho, esse projeto escrito a muitas mãos. O bate papo você confere logo abaixo:

Pixel TV: De onde surgiu a ideia da websérie? Como aconteceu a escolha pelo tema?

Alice Carvalho: O argumento embrionário do que viria a ser SEPTO surgiu em setembro do ano passado, numa estadia rápida na praia de Pipa (RN). Lembro que não racionalizei muito enquanto escrevia. Foi mais um daqueles estalos criativos que acometem de supetão qualquer artista. Uns dias antes eu tinha assistido um filme estrelado pela Juliane Moore que me inspirou visualmente e um documentário sobre crianças esportistas que são tratadas como troféu pelos pais. Fora reflexões sobre esse tempo líquido acelerado que a gente vive, onde sempre algo tem que estar acontecendo, sempre há alguma vitória a ser contada, resultados, números, pouca respiração sincera. Fora a necessidade de representatividade para mulheres negras, nordestinos, mulheres lésbicas. Não foi tudo de caso pensado, mas de alguma forma isso fermentou e virou argumento para ser desenvolvido com Aureliano Medeiros e Frank Aleixo.

Pixel TV: Qual o maior desafio na produção da websérie?

André Santos: Foram vários desafios. O inicial foi conseguir uma verba mínima (através do catarse, festas e vendas de bebidas) para a produção da websérie. Após conseguirmos a verba, vimos como foi difícil fazer cinco episódios com um pouco mais de 15 mil reais. Toda a equipe trabalhou muito e recebeu um valor simbólico por esse trabalho, já que não tínhamos muito dinheiro e o trabalho foi equivalente a produção de cinco curtas-metragens. Fora a questão financeira, tivemos desafio de linguagem, pois nunca havíamos trabalhado com websérie antes, sem falar em questões de produção que dificultaram um pouco as filmagens, como maré, chuvas etc.

Pixel TV: Como foi a experiência em escrever o roteiro de forma coletiva?

Alice Carvalho: Escrever a 6 mãos foi muito ousado mas, sobretudo, uma experiência de crescimento e evolução pessoal. Saber trabalhar concatenando ideias não só suas, ponderando, medindo também as próprias palavras durante críticas, sendo sinceros e colocando qualquer vaidade num patamar muito abaixo da importância da obra.
Iniciamos, experimentamos, vimos com lucidez e distanciamento o que funciona e não funciona na web com erros e acertos. Agora trabalharemos – com o reforço de mais uma roteirista mulher, Vitória Real – para desenvolvermos o potencial da próxima temporada.

Pixel TV: Teremos uma segunda temporada?

André Santos: Sim, estamos pensando na melhor forma de dar continuidade a SEPTO. Agora, estamos em momento de finalização de pendências da primeira temporada e, após esse período, vamos iniciar discussões e pensar nas possibilidades que temos e em qual escolha será melhor para seguir, estrategicamente falando. Financiamento coletivo segue sendo uma opção mas sabemos das dificuldades de se conseguir atingir a meta e também das dificuldades de fazer uma produção com um valor reduzido da realidade do mercado, algo que acaba sendo feito quando o orçamento principal vem de um financiamento coletivo.

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