A segunda temporada de “The Last of Us” continua a explorar as complexidades morais e as consequências devastadoras de um mundo pós-apocalíptico. Um dos momentos mais impactantes e discutidos recentemente ocorreu no episódio 6, onde a série abordou diretamente a morte de Eugene, marido de Gail, revelando que ele foi executado por Joel Miller.
Este evento crucial não apenas choca os espectadores pela sua brutalidade, mas também estabelece uma ruptura significativa nas relações entre os personagens principais, especialmente entre Joel e Ellie, e adiciona camadas inesperadas à narrativa já conhecida pelos fãs dos jogos.
A revelação, embora chocante, já havia sido sutilmente indicada no primeiro episódio da temporada, preparando o terreno para este desenvolvimento sombrio.
O Encontro Fatal no Episódio 6: A Decisão de Joel
O sexto episódio da segunda temporada de “The Last of Us” trouxe à tona um dos eventos mais sombrios e divisivos da narrativa recente da série: a morte de Eugene, marido de Gail, pelas mãos de Joel.
O episódio retratou o momento em que Eugene foi encontrado em estado grave, com uma mordida visível, indicando infecção iminente ou já em curso. A situação era desesperadora, e a decisão sobre o que fazer com ele recaiu sobre Joel, que estava acompanhado por Ellie.
Ellie, movida pela compaixão e pela promessa implícita de comunidade e cuidado mútuo, insistiu veementemente para que Joel cumprisse a promessa de levar Eugene de volta a Jackson. Ela argumentou que Gail merecia uma despedida, um último momento com seu marido, mesmo nas circunstâncias terríveis da infecção. No entanto, Joel, endurecido pelas perdas e pela dura realidade do mundo em que vivem, viu a situação de forma diferente.
Para ele, levar um indivíduo infectado de volta para a comunidade representava um risco inaceitável para a segurança de todos em Jackson. Sua decisão pragmática e brutal de executar Eugene em um local isolado, longe dos olhos da comunidade, foi motivada pela crença de que era a única maneira de proteger aqueles que ele considerava sua nova família, um eco sombrio de suas ações passadas para proteger Ellie.
A Promessa Quebrada e a Revelação a Gail
A decisão de Joel de matar Eugene, apesar dos apelos de Ellie e da promessa de levá-lo de volta a Jackson, teve consequências imediatas e profundas. A promessa feita por Joel, mesmo que sob coação ou desespero, foi quebrada de forma brutal, espelhando de certa forma a grande “mentira” e promessa quebrada em Salt Lake City ao salvar Ellie do hospital dos Vagalumes. Após o ocorrido, a tarefa dolorosa de comunicar a verdade a Gail recaiu sobre Ellie.
A cena em que Ellie revela a Gail o destino de Eugene é carregada de emoção e ressentimento. Ellie não apenas informa Gail sobre a morte de seu marido, mas também compartilha os detalhes angustiantes: que Eugene suplicou para ser levado de volta e que Joel havia prometido fazê-lo.
Essa revelação, expondo a quebra da promessa de Joel, intensifica a dor de Gail e direciona seu luto e raiva para o homem que ela considerava um amigo e membro da comunidade. A honestidade brutal de Ellie, embora dolorosa, cimenta a gravidade do ato de Joel e suas ramificações na vida de Gail e na dinâmica da comunidade de Jackson. Este momento serve como um catalisador para o crescente ressentimento de Gail em relação a Joel, que se tornaria mais explícito mais tarde na temporada.
Ruptura entre Joel e Ellie
A morte de Eugene e a forma como foi conduzida por Joel, seguida pela revelação de Ellie a Gail, marcam um ponto extremamente negativo na já complexa e frágil relação entre Joel e Ellie. Este evento simboliza a ruptura quase definitiva entre eles, um abismo crescente que começou a se formar muito antes, culminando na grande mentira contada por Joel a Ellie sobre os eventos em Salt Lake City.
A decisão de Joel de tirar a vida de Eugene, motivada por sua visão pragmática e protetora do mundo, entra em conflito direto com a empatia de Ellie e seu desejo de manter a humanidade em um mundo desumano. Ellie vê na quebra da promessa a Eugene um reflexo da quebra da confiança entre ela e Joel. A forma como Joel lida com a morte de Eugene — de maneira fria e calculista, priorizando a segurança da comunidade acima da compaixão por um indivíduo e seus entes queridos — reforça para Ellie a percepção de que Joel é capaz de atos extremos para proteger aquilo que considera importante, mesmo que isso signifique sacrificar outros ou quebrar promessas. Esta divergência fundamental de valores e a perda de confiança mútua preparam o terreno para os conflitos e a distância emocional que vimos no inicio da temporada.
Eugene na Série vs. Jogo: Uma Mudança Narrativa Significativa
Um aspecto notável da morte de Eugene na série de “The Last of Us” é a significativa divergência em relação ao material de origem. No jogo “The Last of Us Parte II”, Eugene é mencionado, mas de forma muito diferente. Ele é descrito como um “velho destemido” que, ironicamente, morre de velhice em Jackson, um destino pacífico e natural que contrasta fortemente com a morte violenta e trágica retratada na série. Essa mudança narrativa na adaptação televisiva não é trivial. Ao transformar Eugene em uma vítima da infecção e, mais importante, em uma vítima das ações de Joel, a série adiciona uma nova camada de profundidade e complexidade ao personagem de Joel e às dinâmicas de Jackson. A morte de Eugene pelas mãos de Joel serve a múltiplos propósitos narrativos: intensifica o conflito entre Joel e Ellie, humaniza Gail ao lhe dar um motivo tangível para seu luto e ressentimento, e demonstra de forma visceral as escolhas difíceis e muitas vezes brutais que os sobreviventes são forçados a fazer. A decisão dos roteiristas de alterar o destino de Eugene sublinha a disposição da série em explorar novas facetas dos personagens e do mundo, mesmo que isso signifique divergir do cânone estabelecido pelos jogos, criando surpresas e novos arcos dramáticos para os espectadores.
Contexto e Repercussões: A Importância de Eugene na Segunda Temporada
Embora sua aparição no episódio 6 seja fatal, a importância de Eugene na segunda temporada de “The Last of Us” é sugerida desde o início. No primeiro episódio da temporada, Gail, em uma sessão de terapia em grupo em Jackson, menciona a morte de seu marido, Eugene, e revela explicitamente que Joel foi o responsável.
Ela fala sobre a dor de seu primeiro aniversário de 41 anos sem ele, situando a morte de Eugene pouco antes dos eventos iniciais da segunda temporada. A forma como Gail aborda a morte de Eugene, subentendendo que ele estava infectado (“tinha que ser feito”), mas ao mesmo tempo expressando sua dor e raiva contra Joel, destaca o dilema moral da situação.
A inclusão dessa menção precoce já indicava que o personagem de Eugene, apesar de não ter aparecido na temporada anterior, teria um impacto profundo na trama e a dramatização de sua morte no episódio 6 mostrou isso. Sua morte não é apenas um evento isolado; ela serve como um catalisador para o conflito entre Joel e Ellie, um ponto focal para o luto e o ressentimento de Gail, e um lembrete constante das duras realidades do mundo.
É possível que a série ainda explore mais o passado de Joel nos períodos que sucederam a Segunda Temporada por meio dos Flashbacks, recursos narritivos que são frequentes no jogo, para aprofundar o impacto da perda da figura paterna na mudança radical que Ellie vem sofrendo nos ultimos episódios, reforçando que, mesmo em um mundo apocalíptico, as conexões humanas e suas perdas continuam a moldar o destino dos sobreviventes.
