Precisamos falar sobre a morte de personagens femininas na TV

Muito se fala no quanto matar personagens é a coisa mais normal do mundo. Não tem essa de reclamar de algo tão natural e que acontece em várias séries, em vários livros, etc., não é mesmo? Sim, morrer faz parte do negócio, mas a questão aqui é que quando colocamos na roda de conversa temas como baixa diversidade, o tom desse assunto muda e engrossa. Inclusive, quando inclui na mesma discussão protagonismo e representatividade. Principalmente se for feminina.
Sabemos que as mortes nas séries que amamos são necessárias, mas, vamos ser sinceros, elas não estão cada vez mais aleatórias só para gerarem cliffhangers? Só para garantirem que tal shipper não seja destruído pela “intrusa”? Ou, na modinha da vez, para causarem angústia masculina (como se não houvesse outras maneiras de fazer um homem sofrer)?
Mortes são apenas artifícios de trama. De qualquer trama. Detesto, sofro o que tenho pra sofrer e a vida segue. Dizem que não devemos nos apegar tanto a personagens porque é só ficção, porque é só uma série. Legal, mas chegamos a uma fase da vida que esse assunto não passa mais batido e é importante aquecer cada vez mais essa turbina. Só assim para vermos alguma diferença, especialmente nós que ainda vivemos com a família tradicional sob as nossas cabeças.
Vou-lhes contar uma história intitulada Chacina Feminina em Série. Nela, apresentarei personagens femininas e ressaltarei o modo de operação de suas mortes. Uma singela prova de que mulheres na TV têm se tornado cada vez mais estepes unicamente para os fins, sem direito a ter os meios justificados.
E essa ausência de meios justificados reforça que a personagem feminina é ainda vista como supérflua. Por ser supérflua, lógico que suas mortes serão tão igualmente sem valor.
A Chacina Feminina em Série (criação da minha mente aguçada) teve um marco notável em 1976, com uma moça chamada Julie. Ela morreu atingida por um carro.
Há também a Sharon que morreu ao ser empurrada escada abaixo por um policial. Temos Susan que morreu intoxicada pela cola de um envelope (pela-cola-de-um-envelope). Há também Jadzia que morreu na mão de um alien que estava possuído por outro alien.
Tem também Leila e Rafaela que morreram em uma explosão no shopping porque derrubar duas personagens que se amam de uma só vez é muito romântico, né? Algo que me lembra de Mary-Louise e Nora que simplesmente se explodiram dentro de um carro.
Tem a Tara que morreu com um tiro. Helena que foi atingida por um tiro também. Toshiko que também recebeu er… Um tiro. Até uma rainha não foi poupada, como Sophie-Anne que… Recebeu um tiron. Pior, tem mais, como a Denise que morreu com um tiro. E, ah!, a Lexa que também morreu com um tiro. Vejam que prático. Tiros nos moldes de bala perdida.
E quando não tem revólver, vai na faca como aconteceu com Charlie. Ou com uma flecha como aconteceu com Laurel.
Quando não é tiro, é suicídio. Tricia se foi por uma overdose.
E tem o caso de Shay que, em linhas gerais, morreu com um cano que a atingiu na cabeça.
Mas tem também aquelas “cheias de atitudes”, como Rayna que se apunhalou. Cami que tentou se proteger e tomou uma mordida. Tem Davina que foi mordida pelo amor da sua vida. Abbie que se sacrificou para enaltecer seu parceiro de trabalho.
Agora, um amparo visual:
https://youtube.com/watch?v=dKzCtRI79_0%3Ffeature%3Doembed
…
Poderia continuar com a lista, mas penso que deu para notar que o descaso com personagens femininas, especialmente as da comunidade LGBT, não é de hoje. O processo continua, igual, só mudando os nomes. Mais do que nunca, ela, em âmbito geral, virou dispositivo para finales, para fazer o cara se tornar um cidadão de bem, para aliviar o triângulo, para desaparecer porque incomodou a família tradicional ou porque precisavam de uma reviravolta urgente.
Poucas mortes ainda conseguem ser significativas de modo a estar atreladas ao que se passa na trama. Um tiro em meio a uma guerra é inevitável. O mesmo para uma briga corpo a corpo. O que não vale é criar um circo e cessar o espetáculo com um estampido sem sentido.
Três pesos que continuam a matar essas personagens:
1. Manas lésbicas que atrapalham o casal hétero

Ou crescem de repente por causa da aceitação do fandom para depois ser descartadas.
Ainda há quem trate personagem lésbica como se fosse um experimento. A desculpa para a personagem hétero (que costuma ser a principal) mostrar rebeldia ou para incomodar a masculinidade do personagem que tende a ser o protagonista.
Nisso, entramos na famosa Síndrome da Lésbica Morta (Dead Lesbian Syndrome), um, digamos, dispositivo de trama que se sai basicamente como uma arma secreta na hora de eliminar quem é lésbica só por eliminar. Lexa, personagem de The 100, é, sem dúvidas, quem chamou mais a atenção no último ano dessa série da CW. Simplesmente porque ela é o exemplo de personagem feminina: tinha voz de comando, estava muito confortável com a sua sexualidade e foi dona de um grande arco. Ela não foi uma sombra, mas a mulher mais influente da trama. Porém, é aquele ditado, brilhou demais e…
Lexa morreu e levou com ela a tríade protagonismo, representatividade e diversidade. Para vocês terem ideia do peso dessa personagem, nem a crítica conseguia chamá-la de secundária. Foi uma das melhores criações da série – de um ponto de vista imparcial porque não a acompanho.
Vale frisar que The 100 conversa com adolescentes. Se essa turma não é representada, o que vocês acham que virá depois? Esclareço: a sensação de que não pertence. Nesse caso, de que uma mulher lésbica é temporária, só experimento, a diferentona que teve a sorte de ser líder e de chamar a atenção da real protagonista. Ou desmerecedora de um final feliz. Ou, só buzz temporário.
2. Manas que morrem pela angústia masculina + romance

Aqui temos uma bela treta. Da mesma forma que a mana lésbica morre, geralmente, porque sua presença já rendeu o buzz pertinente, o mesmo se aplica a outras manas que acabam por ser objetificadas e/ou sexualizadas para chamar a atenção do personagem e/ou ser motivo de raiva de outra mulher – sendo que o que queremos é sororidade na TV.
Ou, na maioria dos casos, para libertar o homem emocionalmente incorrigível. Porque, realmente, não há outros meios de torná-lo cidadão de bem a não ser matar uma das poucas personagens que existem numa série (agora só há uma mulher em The Originals pra dar conta do barraco, pensem).
Cami não morreu como heroína. Não morreu por ter sido a única humana do rolê que lutou para manter sua identidade e para se manter fiel ao que era mesmo como vampira (reviravolta que nem chegou a ser desenvolvida). Ela morreu por ser a única na roda que faria Klaus ser mais tragável justamente no final de uma temporada. Estratégico too much?
3. Manas que morrem pelo fanservice + shipper
Há também a questão de que muitas mulheres morrem por causa de um shipper. Nisso, entramos na representatividade como negócio, pois, da mesma forma que personagens lésbicas podem estar ali de isca, o mesmo vale para heterossexuais que são criadas pela necessidade de conflito amoroso ou para viverem apenas o suficiente para atrapalhar o romance e/ou botar juízo na cabeça do personagem masculino. Nada mais.
O que as unem é que, em ambos os casos, elas morrem de forma ridícula.
Aqui temos o ódio sem precedentes por uma personagem que vem do fandom e que reflete nos roteiristas. Só que a culpa maior é de quem escreve, que escuta e dá aval ao corte.
Esse é um caso (não tão raro) em que os fãs também se saem como grandes responsáveis por essa chacina porque trocam rapidinho a representatividade feminina por outro casal. E o peso desse casal costuma vir do cara e não da moça. E já que o cara é tão especial, adivinhem quem passa pela faca?
É bem difícil falar de representatividade quando o público da série é bitolado por um shipper. Esse é outro fator que ajuda a aniquilar representatividade positiva, pois os produtores captam a mensagem de que aquela personagem não vale mais a pena. E ela, muitas vezes, vale mais, como é o caso de Cami que foi injustamente cortada da série e teve uma morte tão medíocre quanto a de Lexa.
E isso é um problema grave. Uma vez que a série se deixa levar pelos fãs e os fãs ganham autonomia, o fandom diz que prefere o casal à mulher, o que, automaticamente, dá prioridade ao homem (mais porque o ator é gato e não porque ele é um bom partido ou relevante). The Vampire Diaries está aí para mostrar o quanto é difícil conversar sobre protagonismo e representatividade, manjando mais de objetificação e de relacionamento abusivo romantizado.
Por só querer o casal ou a angústia masculina, a mulher, seja ela quem for, só é o atrito temporário. Uma vez usada, ela morre porque já enalteceu o homem, já encheu o casal e já centralizou o cara de novo na trama. E adeus.
Exemplos de quando a morte é justificável
Citarei apenas três (de muitos): as companheiras de Doctor Who. Elas morrem como heroínas, por um bem maior, e não como artifícios de trama. Todas aprendem, encontram propósito, são valorizadas. Elas não morrem à toa. A proposta da série é regeneração, então, por mais que doa, uma hora cada uma precisa partir – e nem sempre morrem, vale o lembrete.
O mesmo vale para Orange is the New Black que pode matar quem for, pois nunca faltará a diversidade e nem muito menos representatividade feminina.
Outro caso é o contrato. Alguns atores pedem para sair e autorizam a morte de seus personagens a fim de enterrar qualquer possibilidade de retorno. Algo que não ocorre porque a/o showrunner está de péssimo humor ou quer só criar caso.
A solução? Parte dela pode estar na diversidade
Sabemos que mortes são inevitáveis, mas a grande maioria continua a seguir o mesmo modo de operação. Ou é tiro, ou é pelo cara, ou porque o fandom não curte e quer fora. Mas há uma questão que poderia sim amenizar esse estrago e ela vem da palavra diversidade. Tenho certeza que uma vez botada em prática, essas perdas seriam menos doloridas e, talvez, melhor pensadas.
O burburinho sobre mortes das personagens, especialmente lésbicas, ganhou força em fevereiro deste ano. Jane The Virgin, The 100, The Magicians, The Walking Dead e Empire encabeçaram a discussão do quanto tem sido mais mercadológico trazer uma personagem da comunidade LGBT para o cerne da trama. Infelizmente, ainda há quem não trate diversidade como a alma de qualquer negócio, como é o caso de Orange is the New Black e Sense8, por exemplo, que não apenas expõem personagens diferentes, mas lhes dão histórias a serem contadas.
Essa divergência começa lá no writers’ room, em que a maioria que escreve não pertence às minorias. Assim, só nascem personagens que costumam ser reflexo de seus criadores. O que não é errado, pois acredito que cada escritor/a dá vida ao que tem afinidade, mas que tal diversificar a equipe?
Para prejudicar mais essa tal diversidade, as emissoras precisam de marketing e de promoção que vêm essencialmente dos parceiros que querem espaço de propaganda. Quanto mais o público-alvo é jovem, mais pesam para manter a fidelidade. Assim, todo esforço é necessário para o buzz e esse buzz mantém a grana circulando e segura a produção por mais alguns anos. Isso nunca será errado, nunca mesmo. Afinal, televisão é negócio. O errado é fazer tanta propaganda para, no fim, pisar na representatividade e no protagonismo feminino mais por bel-prazer que por senso de storyline.
Bel-prazer = já deu dinheiro e já garantiu a renovação. Agora, cortem as cabeças.
Esse bel-prazer também vem da resposta pronta: todo mundo pode morrer. Engraçado que só mulher ou personagens da minoria batem as botas. Em contrapartida, é verdade que não tem como manter todo o elenco seguro porque muita coisa pode acontecer no ciclo de um ano. Mencionei a questão de contrato e isso é um receio constante dos produtores. Ou seja, há insegurança para todos os lados que muitas vezes culmina em morte. Fazer o quê?
Contudo, o problema dos problemas ainda é a falta de elencos que estampam diversidade na TV. Uma diversidade que também deixa os personagens no mesmo patamar de influência de trama, como Lexa e Clarke. A minoria continua no background, algo que também vale para personagens negros ou gays que passam pela faca porque o protagonista é branco e hétero e tem que ficar.
A sequência de mortes, que tirou de cena uma quantidade notável de personagens lésbicas, vem, em parte, da falta de diversidade do elenco. Por que não reclamaram da morte de Trixie em Orange em comparação ao que aconteceu com Lexa? Resposta: em Orange há uma pancada de personagens femininas, de hétero até trans, e The 100 contou com uma personagem lésbica de peso que foi retirada de cena depois que criaram toda uma ilusão em cima do seu relacionamento com Clarke.
Entendam: o peso da perda de uma personagem lésbica, até de um gay, é muito maior ao de uma personagem hétero – porque personagem hétero sempre será privilegiada/o e terá espaço aos baldes.
Ao escalar atrizes diversas, automaticamente se pensa em representatividade. Um elenco principal só de brancas e héteros mata o elenco secundário que pode ter só negras. Um elenco principal hétero mata o elenco secundário LGBT. Um pensamento real e nada complexo.
Mas é muita polêmica pra algo que sempre aconteceu… Como disse, a conversa mudou. E se a conversa mudou, o mercado praticamente é obrigado a mudar junto. É difícil, demais, porque vivemos com mais afinco, no entretenimento em geral, o momento das iscas e das tendências.
Lá na década de 90, era muito mais difícil coletar o que estava indo bem a fim de moldar a série como acontece hoje. E ter uma personagem LGBT, por exemplo, era um pouquinho mais difícil e quando havia era para fins cômicos – que também era reservado ao personagem gay. Atualmente, com esse negócio chamado internet, trabalho relaxado é meio que inaceitável.
Mas ainda damos de cara com empresas vendendo feminismo do jeito errado. Vendendo falso empoderamento. Nada anormal em ver séries vendendo personagens para que morram por não pertencerem à maioria. Só que agora nada disso passa e está mais do que correto dar um gritaço.

Já foi o tempo em que se fazia silêncio sobre essa matança desenfreada que leva junto, principalmente, a representatividade feminina. A grande maioria das mulheres que citei na Chacina Feminina em Série pertence à comunidade LGBT. Há mulheres brancas e heterossexuais na lista, mas elas morrem menos no decorrer das temporadas, mas, quando morrem, é uma vergonha porque não há motivo contundente. No fim, a maioria dessas mulheres é eliminada das séries por… Nada.
Por pensarem tanto no fanbait, personagens femininas tendem a não ter storylines desenvolvidas porque estão programadas para morrer. Muitas ficam na superfície, somem por vários episódios e só aparecem para impulsionar a trama e… Morrer. Mesmo que permaneçam, não há protagonismo, e protagonismo é tão importante quanto representatividade.
Quando há contexto, o famoso respaldo com o background da personagem que é de suma importância, a morte tende a ser mais justa e é indiscutível. Porém, não é o que tem acontecido porque: a) a turma que manda no writers’ room começa com o fanservice ou foca em shipper; b) só quer provocar hate; c) vê diversidade como lucro e como meio para garantir renovações; d) porque precisa tornar o homem um ser humano melhor sendo que há “n” meios pra isso; e) romantizar a morte como se tudo na vida da personagem existisse em função do cara.
Nem tudo se resolve com morte, mas é uma tendência. Um mal necessário. Contudo, sem um apoio de história ou de uma justificativa em que você veja que tal morte fez completamente sentido, não tem como defender esse death spree. Porque, de novo, entramos na saída de última hora que é artifício de plot por não ter mais o que inventar. Isso não é só um problema gringo porque as novelas da vida continuam com os mesmos estereótipos. As quebras começaram a acontecer muito recentemente, mas ainda tem quem recue para não denegrir a família tradicional.
Diversidade, a palavra que deveria estar no topo de cada escalação de elenco justamente para evitar essas mortes desenfreadas. Se houver mulheres diversas, até homens, tenho certeza que o impacto dessas fatalidades começará a ser menor porque não será um fim, mas um recomeço. Não será uma porta que se fechou. Afinal, TV vive a base de ciclos renováveis. E renovar o elenco de maneira a representar maiorias e minorias é meio caminho andado para menos puxada de orelha.
A outra solução é deixar de ver morte como conveniência

Lexa tem muito da Tara, personagem de Buffy. Ambas chegaram a ter um relacionamento bacana com seus interesses amorosos, deram certo gás a isso, e morreram coincidentemente com um tiro. Isso aconteceu em 2002 e o mesmo se repetiu em 2016. Aonde mora o problema?
Para quem ama escrever, sabe que uma das perguntas a ser respondidas é: por que tal coisa é importante? Nesse caso, por que tal morte seria importante? Qual é a relevância? Ultimamente, tenho duvidado dessa discussão nos writers’ room da vida. Um desserviço que está em todos os lugares e que visa o mesmo produto: o dinheiro.
No site We Deserve Better, feito depois dos desdobramentos que custou Lexa, a verdade que pontua mortes como conveniência, como dispositivo de trama sem pé e nem cabeça, é nua e crua: há quem use o buzz de uma personagem apenas pela audiência e não leva em conta o quanto a representatividade é muito mais que uns dólares/reais a mais no bolso. E não é mesmo?
Vejo sempre homens morrendo heroicamente na TV enquanto mulheres morrem jurando amor por um cara que nem a olhava na face por vários episódios. Vejo sempre homens morrendo heroicamente enquanto mulheres morrem para torná-lo melhor. Vejo sempre homens morrendo heroicamente enquanto mulheres simplesmente morrem porque não há mais espaço para elas. É inevitável matar? É. Mas podem fazer isso de uma maneira que fuja da ideia de iscas ou de “não tem mais ninguém para matar?” ou de promoção?. Ah, mas podem! Podem criar histórias relevantes? Também podem e devem. Já está mais do que na hora!
Você pode não ligar se há uma lésbica em destaque, quem vive ou quem morre, mas temos sim um problema nessas fatalidades. Assunto que não é único da TV, uma vez que o cinema ainda escala homem hétero, branco, cis para fazer papel transexual (Eddie Redmayne?). Uma vez que você ignora representatividade, você isola vários grupos de pessoas que são, para infelicidade de muitos, a maioria. Não tem mais essa de minoria de plano de fundo, amém Shonda Rhimes, e, literalmente, só mantém esse jogo quem não está pronto para pensar fora da caixinha (pra não dizer outra coisa).
Uma vez que há preocupação com outras vozes, entramos na curva de impacto social – que amarra inspiração e influência. Infelizmente, o dinheiro ainda fala mais alto e mulheres na televisão permanecem como dispositivos para fazer uma trama caminhar não por elas, mas porque há um homem que precisa de seus sacrifícios para evoluir. Ou para garantir uma grana e, claro, impulsionar as renovações.
Repito que não há problema usar esse artifício. Não estou aqui para pedir a imortalidade de todas as personagens femininas até porque não faz sentido. Porém, voltemos para a história da Chacina: o padrão de mortes é praticamente o mesmo. Inclusive, a realidade de que esse padrão vale para a turma do fundo. Secundários foram feitos para morrer, dizem os especialistas. E quem geralmente forma o elenco secundário? Alá, a minoria. E a minoria sempre morre e isso é simples de mudar.
Por mais que a morte seja um dos pontos mais convenientes para causar polêmica/impacto/revolta e para manter a trama aquecida, a verdade é que elas têm acontecido por acontecer quando pensamos nas nossas mulheres. Sem respaldo de storyline e por circunstâncias ridículas. E quem fica?
As últimas fatalidades na fall 2015-2016 entram na fileira de mortes como dispositivos mercadológicos ou simplesmente para reduzir a representatividade de uma comunidade. Enquanto não mudarem essa visão de que diversidade, representatividade e protagonismo são iscas ou métodos de buzz, não teremos personagens femininas ricas – e vivas.
É uma tarefa difícil, porque o business ainda está nas mãos de homens que, claro, só querem enaltecer eles mesmos. E dói um pouco mais quando há mulheres nesse mesmo patamar que ainda acreditam que sua personagem precisa ser validada por um romance.
Há a verdade de que o produtor pode fazer o que quiser com seu trabalho, mas entro em um quote de John Green: ele escreve os livros para os leitores. Adaptando o pensamento: séries são para o público não para apetecer o ego de quem está envolvido com todo o projeto e nem fanservive. O que está faltando nem chega a ser 100% tato, mas interesse. Interesse em criar trabalhos de valor.
Sim, é válido reclamar. É bonito ver um fandom apontar que tal coisa tá errada, melhor que clamar “ódio” nada saudável por uma personagem que acaba morta de graça. Porém, no final do dia, quem decide está neste momento talhando a nova fall season. O que nos resta? A famosa roda de oração.
Para consultar a lista de personagens LGBT mortas, cliquem aqui.